Mas eu divago Volume 2

Expansão natural da coletânea que a antecedeu, Mas eu divago volume 2 a um só tempo retoma temas caros a Paul Marcel e se aventura em assuntos inéditos e, por que não dizê-lo?, inusitados.

Alguns exemplos desta segunda safra são Mary, a benevolente, em que Paul se pronuncia a respeito do suicídio assistido, e Carisma importa?, que questiona a importância (ou não) desta qualidade entre esportistas de elite.

Depois de romper com o que considera um cisma pueril e artificial entre literatura popular e erudita em Um leitor feliz, Paul trata da questão neste segundo volume de não-ficção pelo seu ângulo oposto em Um escritor feliz, tanto um desabafo sobre as agruras do ofício quanto uma declaração de amor a ele.

Nada avesso à mudança, o autor revisita o polêmico Prêmio Nobel outorgado a Bob Dylan, que havia satirizado em Mas eu divago volume 1, em um texto sobre a poesia no século 21 dotado de um ângulo pouco explorado.

Mas eu divago volume 2 é mais uma frutificação da inquietude que caracteriza o ficcionista e o crítico em medidas iguais.

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Rebeldia

Sempre questionador, nunca dogmático, Paul Marcel nos faz perguntas instigantes, quando não perturbadoras, em seu segundo volume de contos, evitando os extremismos de doutrinações vigentes.

Será que a rebeldia também pode ser uma convenção social? Eis a questão posta no conto que dá título ao livro. Haverá filhas e filhos dos deuses caminhando entre nós, como professavam os gregos antigos? Os protagonistas de Dimitrios não queria acreditar podem ter a resposta. A música é capaz de transportar o humano a outras esferas? Que o diga a Joana de Om. Haverá libertação na violência? O narrador de Crime perfeito defende esta tese arrepiante.

Todo autor tem seus temas recorrentes – a própria literatura, a música, o cinema, as religiões, costumes e até o mundo do tênis estão entre os de Paul. Mas em Rebeldia ele vai além: na nova coletânea há uma reflexão sobre o lugar do humano no universo com um toque de ficção científica (Isolamento), os votos de casamento de uma noiva “pós-Me Too, pós-millenials, pós-cringe” (Felicidade conjugal), o repúdio de um artista à adoração maníaca de uma fã (Ídolo), uma metáfora medieval sobre a impossibilidade de comunicação entre indivíduos e povos (A ponte).

Retornar a um gênero não significa se repetir – e Paul o demonstra em Rebeldia.

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Narciso Redivivo

Se a vaidade é a pior doença da alma humana, sua vítima mais célebre é Narciso.

Ser um herói não o livrou de pagar o preço mais elevado pelo amor-próprio exacerbado; seu pai ser um deus-rio é destas ironias que costumam visitar as figuras trágicas.

Tampouco ajudou o jovem formoso a profecia ouvida por seus progenitores, a de que ele jamais deveria contemplar o próprio reflexo – oxalá a prova de que existem destinos imutáveis.

Compêndio de mitos, as Metamorfoses de Ovídio nos contam que Narciso não pode “se conhecer”. É o que busca o protagonista desta novela, Narciso do século 21 que vive a contrapelo dos que o cercam.

A oposição entre seus anseios mais íntimos e as expectativas alheias amiúde o deixa “hirto como uma estátua” e ele “arde no fogo que (ele mesmo) acende”.

Assediado por uma sociedade em que não depara iguais, falta a ele um Ovídio que o informe: “O que desejas não existe!”

O cristianismo raiava no mundo em que as Metamorfoses surgiram. Se o Narciso do mito nos remete ao Antigo Testamento quando “rasga sua veste de cima a baixo”, o desta novela talvez se despeça da vida mais à moda de Jesus do que do efebo lendário.

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Vista da Torre

Se não chega a ser regra, é acontecimento recorrente autores estrearem com volumes de contos.
Não foi o caso de Paul Marcel.

Com três romances publicados, Epifania, Música de viagem e Das boas intenções, nem passava pela cabeça de Paul escrever contos.

Presentes neste volume, Pátria e A mulher do Correio maturavam há anos no recôndito da mente onde nascem as ideias, já quase esquecidos, quando Paul vislumbrou a forma que teriam a certa altura de 2021.

Escrevê-los finalmente foi o catalisador da sequência de dezenove contos que completam Vista da torre.

O próprio autor reconhece que dicção e temas, aqui, são outros. O gosto pela síntese, que se manifesta em suas crônicas e resenhas, torna os contos mais concisos do que é de praxe no gênero. Os enredos comprimem situações de grande carga emocional para potencializá-las.

Conheceremos, entre outras, a história de um ator que extrai de si até o que não gostaria para representar; de um casal que cria expectativas demais a respeito dos filhos; de um chef consagrado que deixa de ter prazer em cozinhar depois de uma tragédia pessoal.

Em comum com as obras de ficção mais alentadas de Paul Marcel, estes contos trazem o olhar que se alterna entre o pragmatismo e a solidariedade no encaminhamento dos destinos dos personagens.

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Mas eu divago Volume 1

Escritas aproximadamente entre 2008 e 2022, as crônicas e resenhas de “Mas eu divago volume 1” salientam várias facetas da escrita irrequieta de Paul Marcel: o amante das artes, o questionador das convenções, o perquiridor espiritual, o comentarista de política externa.

Do elogio a um Proust que não fez outra coisa além de escrever (“Ode à vagabundagem”) à crítica ao faroeste virtual (“Redes mais sociais”), do sexo de Moby Dick (“A tradução literária como fracasso a priori”) à obrigatoriedade do voto (“Vote em 007”), Paul vasculha questões contemporâneas e atemporais com coragem para refutar consensos e gosto por paralelos inusitados.

Se a análise literária não poderia faltar, a música e o cinema, as duas outras grandes paixões de Paul, também são contempladas, seja em uma homenagem ao cultuado Jeff Buckley (“A melhor demo de todos os tempos”), seja na confissão da simpatia por filmes natalinos (“Natal o ano inteiro”).

Os 100 textos de “Mas eu divago volume 1” apresentam um Paul Marcel diferente do ficcionista, mas que um olhar cuidadoso revela ser, na essência, complementar.

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Das boas intenções

Fugindo de uma aventura amorosa que acabou mal, Jonas se muda da capital para uma cidade do interior, onde vai cursar Direito.

Lá ele se une a um grupo de estudantes desencantados da política que planejam um atentado a um líder local no desfile de Sete de Setembro. Mas é grande a tensão entre seus membros, que têm ideologias e motivações muito diferentes.

Na casa em que aluga um quarto, Jonas se envolve com a viúva Martha, sem perceber que também despertou a paixão de sua filha, Laura, uma adolescente inteligente, mas sem nenhuma vivência amorosa.

Enquanto isso, Adriana, grávida de Jonas, segue seus passos para confrontá-lo.

Será justamente no Dia da Independência que os amores impossíveis, as desavenças políticas e os acertos de contas pessoais irão convergir em um clímax que irá definir o destino de cada personagem.

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Música de viagem

A partitura da vida do protagonista deste livro às vezes se parece à de uma ópera: tem momentos de grande dramaticidade, reviravoltas e algo do patético de toda existência.

Quando ele e a esposa estão em harmonia, a partitura lembra uma balada das mais românticas; quando o casal se afasta e as escalas menores da dor ameaçam se tornar irrefreáveis, mais se assemelha a um blues.

Vez por outra também surgem distorções do mundo exterior, desestabilizadoras e incontroláveis, e tudo fica heavy metal.

Não é à toa que conhecemos o protagonista simplesmente como “o baterista”. Músico consumado, ele encontra na arte o ritmo e a melodia, o encanto e o propósito que com tanta frequência se mostram esquivos no cotidiano do marido imperfeito, do filho arredio, do irmão ressentido.

Mas talvez a partitura da vida do baterista acabe se revelando uma obra mais bem acabada do que a desafinação das falhas de cada ser humano levaria a crer…

…aceita o convite, entrega sua passagem e parte com ele, música de viagem é o que é, tem um quê de nostálgica e convidativa, é um adeus e um olá, aquilo que aquele que parte sente e pensa.

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Epifania

Não é de hoje que livros a respeito de escritores são populares entre leitores – qual amante da boa ficção não quer conhecer as engrenagens da criação literária?

Entre os escritores, também é forte o ímpeto confessional; daí vem o já consagrado bildungsroman, o romance de formação.

Entre os muitos exemplares deste que é um gênero em si, o Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce, se destaca, tanto por seus méritos intrínsecos quanto por apresentar um modelo clássico do artista incipiente, que se bate com as exigências de um mundo nem sempre acolhedor enquanto desenvolve seu dom.

É mais raro ver – se é que já se viu – um aspirante a escritor relatar, com uma honestidade que não poupa nem a si mesmo, todas as esperanças e todos os desgostos, todas as agruras e todos os deleites daquele que se lança à empreitada fascinante, mas repleta de obstáculos, de dedicar o melhor de seu tempo e de suas forças à criação de uma obra escrita.

E quando este neófito das letras, um brasileiro que estuda jornalismo em Paris no início da década de 1940, torna-se pupilo do próprio Joyce, história e imaginação se irmanam para criar um romance que é, a um só tempo, uma declaração de amor à literatura e uma profissão de fé.

Em Epifania, entrecruzam-se os destinos de dois artistas: um que se aproxima do fim e outro que começa a se descobrir.

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Rebellious

Always inquisitive, never dogmatic, Paul Marcel asks both intriguing and disturbing questions in his second collection of short stories, skirting the radicalism of prevailing indoctrinations.

Can rebelliousness also be a social convention? Perhaps the answer is in the tale that gives the book its title. Are there sons and daughters of the gods walking among us, as the old Greeks professed? The protagonists of Dimitrios could not believe it may tell. Is music capable of transporting humans to other spheres? Joana shows it in Om. Is there liberation in violence? The narrator of Perfect crime sponsors that chilling theory.

Every author has recurring themes – literature itself, music, movies, religion, customs, even tennis are among Paul’s. But in Rebellious he goes farther: the new collection features a reflection on the place of mankind in the universe with a touch of science fiction (Isolation), the wedding vows of a “post-Me Too, post-millennials, post-cringe” bride (Marital bliss), the repudiation of an artist to the maniacal adoration of a fan (Idol), a medieval metaphor about the impossibility of communication between individuals and peoples (The bridge).

Going back to a genre doesn’t mean repeating oneself – and Paul proves it in Rebellious.

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Narcissus Reborn

If vanity is the worst disease of the human soul, its most famous victim is Narcissus.

Being a hero did not spare him the ultimate cost of overweening self-love; his father being a river-god is among the ironies which tend to visit tragic figures.

His parents’ knowledge of the prophecy that he was never to behold his own reflection was no help to the handsome youth either – perhaps the proof that there are immutable fates.

A compendium of myths, Ovid’s Metamorphoses tell us that Narcissus cannot “know himself”. That’s the goal of the protagonist of this novella, a 21sth century Narcissus who lives at odds with those encircling him.

The clash between his innermost yearnings and the expectations of others often leaves him “inert as a statue” and he “burns in the fire he (himself) kindles”.

Harassed by a society where he counts no equals, he lacks an Ovid to inform him: “That which you seek exists not!”

Christianity all but dawned when the Metamorphoses came out. If the mythical Narcissus hearkens back to the Old Testament when he “tears up his vest from top to bottom”, in this novella he may depart from life more in the fashion of Jesus than of the legendary ephebe.

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