Se a vaidade é a pior doença da alma humana, sua vítima mais célebre é Narciso.
Ser um herói não o livrou de pagar o preço mais elevado pelo amor-próprio exacerbado; seu pai ser um deus-rio é destas ironias que costumam visitar as figuras trágicas.
Tampouco ajudou o jovem formoso a profecia ouvida por seus progenitores, a de que ele jamais deveria contemplar o próprio reflexo – oxalá a prova de que existem destinos imutáveis.
Compêndio de mitos, as Metamorfoses de Ovídio nos contam que Narciso não pode “se conhecer”. É o que busca o protagonista desta novela, Narciso do século 21 que vive a contrapelo dos que o cercam.
A oposição entre seus anseios mais íntimos e as expectativas alheias amiúde o deixa “hirto como uma estátua” e ele “arde no fogo que (ele mesmo) acende”.
Assediado por uma sociedade em que não depara iguais, falta a ele um Ovídio que o informe: “O que desejas não existe!”
O cristianismo raiava no mundo em que as Metamorfoses surgiram. Se o Narciso do mito nos remete ao Antigo Testamento quando “rasga sua veste de cima a baixo”, o desta novela talvez se despeça da vida mais à moda de Jesus do que do efebo lendário.
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